Tremo quando olho para a capa do tão aguardado The Endless River dos Pink Floyd. O desenho clean faz-me lembrar a fotografia do filme "A Vida de Pi" que servia apenas para esconder a banalidade atroz da história. Esperemos que as músicas aqui não me desiludam.
Os Pink Floyd versão David Gilmour (pós-1984) mantiveram uma coerência assinalável ao nível da componente musical e melódica das canções, seguindo muito as linhas orientadoras do álbum Wish You Were Here; as letras no entanto sofreram um abalo considerável com a saída de Roger Waters, a única verdadeira alma inconformada da banda. Isto é particularmente visível em músicas como On The Turning Away ou A Great Day For Freedom (de um politicamente correcto absolutamente confrangedor) ou Dogs Of War (um spin off embaraçoso do passado glorioso de Animals).
Apesar disso ainda existem algumas réstias de classe no meio do campo conceptual estéril em que se baseiam os discos Momentary Lapse of Reason e The Division Bell. Especialmente este último reflecte algumas ideias sobre a comunicação entre as pessoas que me parecem especialmente pertinentes numa altura em que a era da informação está cada vez mais acelerada e os Homens cada vez mais isolados.
O tema Keep Talking, com a participação do físico inglês Stephen Hawking, expressa a dificuldade de interacção de um indivíduo isolado, a sensação definida em inglês como alone in the crowd e a forma como isso condiciona a resolução quotidiana de conflitos. Hawking volta a participar em The Endless River novo disco dos Pink Floyd que será lançado algures até ao fim do ano. Fico à espera para ver a pertinência da mensagem destinada à voz computorizada de Hawking.
It's more of a wish [that all problems can be solved through discussion] than a belief. (David Gilmour, 1994)