Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Acerca da perenidade de uma tradição

por Tiago, em 22.06.15

Como minhoto que sou, toda a tradição tauromáquica me passa muito ao lado mas não posso deixar de achar imensa graça ao facto de, durante as largadas, espalharem areia nas ruas para...não estragar os cascos aos bichos. Espetar bandarilhas no cachaço tudo bem, agora partir-lhes as unhas é que não. Enfim, suponho que seja essa sensibilidade com o bem estar dos bicos que atrai aficionados por todo o país.

No entanto, atrai-me muito a coragem dos bravos toureiros de rua a quem a cautela, e nunca o medo, leva a fugir desenfreadamente. Como diria um dos mais intrépidos com quem travei conhecimento: como é que vês os meus olhos se quando olhas para mim só vês os teus? É fácil, são lentes espelhadas.

Para terminar num nível elevado um post que de outra forma acabaria na mais profunda estupidez, fica a razão do fascínio de Hemingway pelas faienas:

"The only place where you could see life and death, i. e., violent death now that the wars were over, was in the bull ring and I wanted very much to go to Spain where I could study it. I was trying to learn to write, commencing with the simplest things, and one of the simplest things of all and the most fundamental is violent death."

Hemingway a perguntar pelo preço do capote e das bandarilhas.

Acerca da sabedoria do cinismo

por Tiago, em 29.04.14

Eu hei de lhe falar lugubremente 
Do meu amor enorme e massacrado, 
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente. 

Hei de expor-lhe o meu peito descarnado, 
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário, 
E ser menos que um Judas empalhado. 

Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário 
E desvendar a vida, o mundo, o gozo, 
Como um velho filósofo lendário. 

Hei de mostrar, tão triste e tenebroso, 
Os pegos abismais da minha vida, 
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso, 

Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida, 
Cheia de dor, tremente, alucinada, 
E há de chorar, chorar enternecida! 

E eu hei de, então, soltar uma risada. 

 

Pela mão de Cesário Verde, é um poema muito engraçado que aborda o cinismo como uma espécie arma de arremesso no digníssimo campo do engate. Porém, torna-se especialmente divertido (ou só parvo) se pensarmos que, adicionando uns trocadilhos ordinários e badalhocos, poderíamos estar na presença de uma obra saída da pena do mais ilustre trovador de Vila Praia de Âncora. Fica a tímida sugestão de um admirador para esse colosso da música popular e outra alma embriagada de poesia.

 

Enfim, a sabedoria poética de Cesário Verde ao serviço dos mais altos desígnios. O mais alto neste caso.

Um encanto.

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2013
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D

Links

Blogs