Há muitos anos lia um artigo na super interessante revista "Super Interessante" em que falavam para lá de teletransporte e de como o entrelaçamento quântico entre partículas era um passo nesse sentido. Anos corridos e ainda tenho de ir a correr para o metro senão não há produção que leve este país para a frente. Enfim já sabemos que isto da Ciência é só bugiganguice para enganar o incauto do proletário na sua busca incessante de optimizar o seu processo produtivo.
Serve esta introdução, como me parece evidente, para chegarmos aos fabulosos Pink Floyd. A propósito do regresso do David Gilmour a Pompeia, lembrei-me de como o filme Live at Pompeii (1973) capta os Pink Floyd num ponto de rebuçado que geralmente é ofuscado pelas alturas insanas de Dark Side of The Moon (1973) ou The Wall (1979). Na verdade o concerto de Pompeia é um conjunto tremendamente sólido de músicas da fase mais psicadélica e experimental da banda antes de chegaram a terrenos mais progressivos e conceptuais. Quanto ao entrelaçamento, esse está lá e tem o expoente máximo em Careful With That Axe Eugene, uma música absolutamente hipnótica, num crescendo imparável até à erupção e acalmia, traçando um paralelo assombroso com a história de Pompeia. Um momento absolutamente mediterrânico (é impossível não imaginar a Acrópole e a Esfinge) dos moços londrinos. É essa ligação trascendental entre a música, a história, o local e a estranheza de tocar para um anfiteatro vazio que faz a magia deste concerto.
Down, down. Down, down. The star is screaming. Beneath the lies. Lie, lie. Tschay, tschay, tschay. Careful, careful, careful with that axe, Eugene. The stars are screaming loud.
Aparentemente o excelso David Gilmour vai lançar um novo disco em 2015. Embora o "On An Island" seja tudo aquilo que eu menos gosto no Gilmour, nomeadamente a falta de acutilância e o pacifismo latente e conformado que me interfere com os nervos, é sempre de assinalar quando um tipo dos Pink Floyd faz qualquer coisa. Embora não tenha grandes expectativas tenho a certeza de que será música muito bem tocada e que certamente evocará alguns dos grandes momentos dos Pink Floyd. E só por isso já valerá a pena!
Quanto à digressão, espero que não seja algo do tipo "Remember That Night" onde se limitou a tocar no Reino Unido. As primeiras informações não são animadoras ("a digressão não terá umas 200 datas... vai ser uma coisa de velhote" - David Gilmour) mas fica sempre a esperança de ainda o ver ao vivo. Serviria como segunda parte do concerto do The Wall que tive oportunidade de ver, completando assim uma espécie de concerto dos Pink Floyd.
Numa perspectiva mais animadora, tendo em conta o amor dos velhotes ingleses ao Sol e ao vinho português livre-se de não vir cá tocar umas musiquitas para nós!
Bastante fora de moda para a minha geração, Bryan Ferry funciona actualmente como uma espécie de cantor britânico com uma aura romântica que, tipicamente, é muito pouco inglesa.
Desde o cover de Jealous Guy até ao muito arrebatado Slave to Love o homem é de facto um grande intérprete. Além disso, é um tipo com olho para contratações, como o demonstra a sua actuação no Live Aid. Acho sempre óptimo um gajo que pensa “Epa precisava de um guitarrista pa dar aqui uma ajuda” e conclui brilhantemente “Ah já sei, conheço um tal de David Gilmour”.
Voltando atrás, aos tempos dos Roxy Music, Mother of Pearl é um resumo bastante apurado da imagem que tenho de Bryan Ferry: um rocker a sério com uma saudável queda para as baladas. Neste caso, depois de uma introdução com umas guitarras infernais, surge uma música completamente nova, com um ritmo pasteleiro, um refrão viciante e uma letra dúbia com algumas alusões ao consumo de…coisas.
Adensa-se assim o mistério da improbabilidade das lantejoulas: quem diria que pessoal com opções de vestuário tão questionáveis ia ter um gosto tão refinado para a música?