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Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Acerca da luz que perpassa massas de água

por Tiago, em 06.06.17

É sempre curioso um filme passado quase na Antártida naquilo que para mim são as terras de Shackleton, da Ilha do Elefante e da agonia do Endurance. Neste caso, e ao contrário da odisseia que foi a Expedição Imperial Trans-Antártica, "A Luz Entre Oceanos" é um filme pouco dado a explorações ou viagens para lá daquelas que se passam dentro dos personagens; trata-se de uma história intrigante em que não existe Bem ou Mal, apenas tudo o que fica a meio caminho. Um filme que vale a pena, quanto mais não seja, pelo trio de actores formidáveis composto por Michael Fassbender no papel de um veterano de guerra dado à vida contemplativa de faroleiro; Alicia Vikander como a feliz recém-casada que rapidamente leva umas chapadas da vida e fica num limbo de indecisão; Rachel Weisz a dar corpo a uma mulher que carrega uma cruz insuportável e não abdica dela por todas as razões correctas. 

Vale a pena especialmente se para quem gosta de ficar na dúvida moral entre o que está certo e o que é correcto.

T.L.B.O.2016.HDRip.XviD.AC3-EVO.avi_004164774.jpg

Acerca da Trágica e Gloriosa História de Gimme Shelter

por Tiago, em 07.05.16

Um aspecto que pesa cada vez na minha apreciação dos filmes que vejo é a banda sonora. É um vício do qual me apercebi à medida que me embrenhei na obra de Quentin Tarantino e imergi naquele emaranhado de músicas série D, há muito esquecidas mas com um papel memorável em algumas cenas. Como esquecer "Down In Mexico" em Death Race ou "Don't Let Me Be Misunderstood" no Kill Bill?

Uma música à qual associo cinema é sem dúvida "Gimme Shelter" dos Rolling Stones, em especial os filmes de polícias e bandidos de Martin Scorcese: CasinoGodfellas e o meu favorito The Departed. Apesar de ser uma das minhas músicas preferidas, apenas descobri recentemente a trágica histórica da sua gravação. 

Reza a história que os Stones estavam por Los Angeles em 1969, uma época particularmente violenta e rica em tumultos sociais, e precisavam de uma voz feminina para gravar o refrão de Gimme Shelter: Rape, murder/It’s just a shot away!

There are some guys in town from England. And they need someone to come and sing a duet with them, but I can’t get anybody to do it. Could you come?

Apesar da hora tardia e do estado avançado de gravidez, Merry Clayton lá foi até ao estúdio e gravou uma impressionante performance vocal que fica para a história.

Despite giving what would become the most famous performance of her career, it turned out to be a tragic night for Clayton. Shortly after leaving the studio, she lost her baby in a miscarriage. It has generally been assumed that the stress from the emotional intensity of her performance and the lateness of the hour caused the miscarriage.

A história completa pode ler lida aqui.

 

Acerca de Suaves Músicas e Violência Brutal

por Tiago, em 26.04.16

Um dos filmes mais interessantes que vi nos últimos tempos foi "A Most Violent Year" sobre a onda de criminalidade que varreu a cidade de New York nos anos 80. O filme não é brilhante e vale sobretudo pelos papéis desempenhados por Oscar Isaac e Jessica Chastain. A sequência de abertura mostra o protagonista, um empresário ambicioso interpretado por Isaac, a correr pelos perigosos subúrbios sobre um pano de fundo musical que desconhecia, "Inner City Blues" uma canção de 1971, interpretada por Marvin Gaye. Chamou-me a atenção a música e, mais tarde, tomei alguma atenção à letra:

Crime is increasing
Trigger happy policing
Panic is spreading
God know where we're heading

Talvez em Portugal não se tenha chegado a este nível mas fez-me pensar um pouco no papel da polícia na sociedade e em confrontos como os que ocorreram em Jacksonville, por causa de tensões raciais, ou no Brasil, em resposta à crise política desencadeada pela operação Lavajato. 

Acerca de Brooklyn

por Tiago, em 14.03.16

Talvez seja apenas um retrato-tipo da emigração massiva da Irlanda para os EUA no pós 2ª Guerra Mundial mas "Brooklyn" pareceu-me um pouco mais do que isso. Pareceu-me um filme sobre o sentimento de não pertencer, das escolhas que se fazem entre o que se quer alcançar e o que fica para trás nesse caminho. Não se está bem onde existe trabalho porque não é a nossa casa; por outro lado a nossa casa também já não é aquilo que idealizámos na ausência. Fica-se ali a meio caminho, num sítio estranho, temendo que uma nova cidade nunca seja tão feliz e acolhedora que lhe possamos chamar casa. E isso é chato.

Acerca de Roman Holiday

por Tiago, em 08.03.16

O fascínio pelos clássicos é algo que está sempre presente nas minhas escolhas de filmes, música ou livros. Acho sempre estranho que se possa ver, ler ou ouvir apenas o que vai aparecendo tendo em conta que é estatisticamente improvável que não exista nada melhor feito no passado; claro que isto não invalida que apareçam novos filmes, novas bandas que valham a pena mas faz-me espécie andar sempre atrás do next big thing quando existem tantas coisas boas para descobrir no passado.

Uma época de que gosto particularmente, em termos de cinema, são os anos 50/60, altura em que foram feitos alguns dos meus filmes preferidos como "Lawrence da Arábia", "A Ponte Sobre o Rio Kwai", "Os Canhões de Navarone", "Dr. Strangelove" e muitos outros. Assim, o facto de nunca ter visto um filme com a Audrey Hepburn era uma falha grave que colmatei assistindo a "Roman Holiday", protagonizado a meias com Gregory Peck, actor que já tinha visto no assalto a Navarone.

Logo nos créditos iniciais fiquei surpreendido com o facto do filme ser realizado por William Wyler que também esteve por trás de outros clássicos como "Ben-Hur" ou "O Monte dos Vendavais". Por outro lado, o argumento foi escrito em parte por Dalton Trumbo, figura em destaque pelo novo filme com Bryan Cranston, embora só tenha recebido os créditos mais tarde devido às suas supostas simpatias comunistas. Quanto ao filme em si, é a história de uma princesa entediada que, numa fuga por Roma, esbarra com um jornalista sedento de um furo que lhe permita fazer fortuna. Mais do que a história de enganos e peripécias, agrada-me aquilo que, como um absoluto leigo em cinema, definiria como uma certa elegância e sobriedade nos planos e filmagem das cenas, aproveitando ao máximo o belíssimo pano de fundo da Cidade Eterna. 

Foi o filme que catapultou Audrey Hepburn para o sucesso e reza a lenda que Peck, já um actor de sucesso em Hollywood, terá sugerido que se colocasse o nome de Hepburn junto ao seu nos créditos iniciais, com o mesmo destaque, usando o seguinte argumento: "She'll be a big star and I'll look like a big jerk". Assim pode ler-se "Presenting Gregory Peck and introducing Audrey Hepburn". Bem visto da parte do Gregory!

Acerca do nosso perpétuo movimento de translação

por Tiago, em 15.04.15

Num cenário mais ou menos estranho, exótico e adverso para dois americanos como a cidade de Tóquio, sente-se o exacerbar da a solidão dos dois personagens principais que se cruzam numa procura de empatia, acima de tudo. O Japão parece apenas uma metáfora para estilos de vida cada vez mais solitários, tão supostamente sociais mas onde a distância entre as pessoas é sempre e cada vez maior.

As cenas em que Bill Murray telefona para a mulher e a Scarlett Johansson para uma amiga nos EUA são algo que achei especialmente real e até auto-biográfico: ter algo para dizer, não ter ninguém para escutar (apesar de se estar rodeado de pessoas) e lidar com a angústia subjacente; uma demonstração eloquente da expressão "alone in the crowd".

É impressionante a forma como o filme consegue transmitir um conjunto de ideias, principalmente através do subtexto, dos silêncios e do que fica por dizer; tudo assente na química improvável dos dois actores principais. A banda sonora é um mundo à parte com músicas dos Air, My Bloody Valentine e, especialmente, "Just Like Honey" dos The Jesus And Mary Chain. Vale a pena ver sem dúvida.

Everyone wants to be found.

 

Acerca da (possível) falibilidade do imperativo racional

por Tiago, em 24.01.15

Na sociedade ocidental, cada vez mais secularizada, a fé na ciência substituiu para muitas pessoas a prática religiosa e empurrou as questões místicas do oculto para um papel largamente marginal na vida do comum dos cidadãos. Começou assim uma procura incessante e obsessiva por uma base racional para todos os aspectos da vida.

Lembrei-me disto a propósito do filme "Magia ao Luar" que, sem ser um filme vintage de Woody Allen, é ainda assim superior a 95% de todos os filmes que estreiam por estes dias. Conta a história de um mágico que faz do desmascarar de videntes e afins o seu hobby, até ao dia em que é finalmente enganado olimpicamente e passa a acreditar no oculto; mais do que isso, é surpreendido com a genuína felicidade que a impossibilidade de explicar o Mundo exclusivamente pela razão lhe traz.

O filme despertou uma questão que por vezes me coloco, especialmente nas alturas em que não tenho muito com que me ocupar como é manifestamente o caso: ao encararmos a vida num prisma estrita ou tendencialmente racional não estaremos a fechar a porta às ambiguidades e subtilezas que, por hipótese, constituem a verdadeira felicidade?

Acerca da inerência dos vícios I

por Tiago, em 15.10.14

(Sempre quis fazer isto e atendendo a que nunca escreverei um livro, fica aqui uma tentativa absolutamente boçal de iniciar um texto com uma nota introdutória de nome pretensioso.)

 

Prólogo

Ainda não li o livro. E ainda não vi o filme embora ache que só será lançado ao público em Janeiro pelo que eu próprio me absolvo. Fica ainda justificada qualquer parvoíce escrita depois deste prolegomenon (ressuscitemos línguas mortas já agora).

 

Tudo o Resto

Então parece que vem aí um filme novo de Paul Thomas Anderson chamado Inherent Vice baseado na obra homónima de Thomas Pynchon. Depois de ler e não ter percebido completamente V., tenho curiosidade em tentar de novo um livro de Pynchon e este vem mesmo a calhar porque em caso de dúvida é ver o filme. Quanto ao filme, será uma oportunidade para tentar catalogar o realizador na minha lista de preferências: gostei imenso de Magnolia (um dos meus filmes preferidos), não gostei de Boogie Nights (essencialmente pela história ou falta dela) e There Will Be Blood tem excelentes momentos (em particular a sequência final) embora ache que se arrasta demasiado para o meu gosto. Portanto vamos lá ver o que sai deste Inherent Vice... Ah e a banda sonora é de Jonny Greenwood dos Radiohead por isso a expectativa está lá em cima neste particular.

A expressão que dá título ao livro/filme refere-se, segundo a Wikipédia, a um defeito escondido num qualquer objecto físico, causando a sua deterioração e instabilidade dos seus componentes. Num filme que conta a história de um detective que investiga o desaparecimento do namorado da ex-namorada, fico a aguardar personagens absolutamente instáveis e explosivas.

Vou tratar então de ler o livro para ver se alguma das minhas previsões se concretiza ou se realmente não percebo nada disto. A ciência futebolística indica que os prognósticos só devem ser feitos no fim do jogo; veremos se, como tanta coisa do mundo do futebol, esta teoria é adequada também às literaturas.

 

Conclusão e (falta) de moral da história

E o cartaz absolutamente encantador do filme? Será uma referência a V. ou são somente os membros inferiores de uma senhora?

 

 

 

Acerca do estereótipo judeu

por Tiago, em 29.04.13

O Complexo Portnoy de Philip Roth ressalta uma visão cómica dos judeus americanos, muito ligada ao manter das aparências, actividade que tendemos a associar aos subúrbios americanos. Subúrbios definidos como zona da classe média, onde a opinião dos vizinhos, com quem não nos relacionamos, se sobrepõe a qualquer sacrifício que tenha por isso que ser imposto ao resto da família. É neste ambiente que cresce Alexander Portnoy, filho de uma família judia de classe média, sedenta de manter as tradições ancestrais mas, inevitavelmente, sempre em choque com o estilo de vida americano. Portnoy associa todos os constrangimentos e pressões da infância (em especial os associados à relação materna) à pessoa em que se tornou.

Com um estilo ordinário (no melhor dos sentidos, até porque não existe outro) e um tremendo ritmo de comédia, Roth escreve a confissão feita por Portnoy ao seu psicólogo onde descreve em detalhe um conjunto assustador, verosímil, autêntico e comum de comportamentos, perversões e atitudes no relacionamento com o sexo oposto e consigo mesmo.

No cinema, A Serious Men dos irmãos Coen, traça também este retrato do judeu americano inseguro, apagado e com problemas de auto-estima que vive permanentemente no limbo entre a sua própria fé e o choque cultural. Seja verdade, caricatura ou mito, é realmente um tema com elevado potencial humorístico; fico à espera da versão cinematográfica d’ O Complexo Portnoy e sugiro Philip Seymour Hoffman para o papel principal.

 

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