Acerca do Verão Quente em Lisboa
Na TVI24 o jornalista Henrique Garcia entrevistava a autora de um livro, cujos nomes já não apanhei, sobre a Lisboa dos anos 70. Para lá dos cinemas, cafés ou personagens em destaque, chamou-me a atenção a parte da conversa que incidiu no PREC. Confessava a autora que apesar de toda a pesquisa não conseguia ter uma ideia precisa sobre os conturbados tempos do pós-revolução. A princípio achei a ideia estapafúrdia mas depois percebi que quem não viveu in loco esses dias não pode ter de facto uma ideia sobre o clima vivido na cidade: além das conspirações e tentativas constantes de golpes de estado que pairavam durante o Verão Quente de 75, havia ainda uma inflação galopante, escassez de bens nas lojas e até atentados à bomba perpetrados por grupos radicais de esquerda e direita.
Assim, chego também à mesma conclusão da autora, não conseguindo imaginar toda a situação vivida nesses tempos. Acrescento no entanto que é um exercício essencial para se perceber o real valor do 25 de Abril, de tudo aquilo que fez nascer, de bom e de mau, na sociedade portuguesa. Apesar das constantes declarações de amor dos velhos do Restelo aos tempos da Outra Senhora, tenho para mim que o balanço é muito positivo. Ou nas sábias palavras de Sophia:
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.