Acerca do nosso perpétuo movimento de translação
Num cenário mais ou menos estranho, exótico e adverso para dois americanos como a cidade de Tóquio, sente-se o exacerbar da a solidão dos dois personagens principais que se cruzam numa procura de empatia, acima de tudo. O Japão parece apenas uma metáfora para estilos de vida cada vez mais solitários, tão supostamente sociais mas onde a distância entre as pessoas é sempre e cada vez maior.
As cenas em que Bill Murray telefona para a mulher e a Scarlett Johansson para uma amiga nos EUA são algo que achei especialmente real e até auto-biográfico: ter algo para dizer, não ter ninguém para escutar (apesar de se estar rodeado de pessoas) e lidar com a angústia subjacente; uma demonstração eloquente da expressão "alone in the crowd".
É impressionante a forma como o filme consegue transmitir um conjunto de ideias, principalmente através do subtexto, dos silêncios e do que fica por dizer; tudo assente na química improvável dos dois actores principais. A banda sonora é um mundo à parte com músicas dos Air, My Bloody Valentine e, especialmente, "Just Like Honey" dos The Jesus And Mary Chain. Vale a pena ver sem dúvida.
Everyone wants to be found.