Acerca de Jane Eyre
Depois de "Orgulho e Preconceito" ficou-me a pulga atrás da orelha para ler "Jane Eyre", mais um clássico da literatura britânica. No entanto, e como não gosto de levar as coisas muito a eito, decidi fazer um ligeiríssimo interlúdio com um Prémio Nobel que ainda não conhecia, Yasunari Kawabata. Daqui há pouco a dizer, "Terra de Neve" não me deixou grande impressão: apesar de reconhecer a qualidade da escrita, tive dificuldade em perceber a relevância da história ou sequer identificar-me com as personagens.
Assim e voltando a Miss Eyre, isto começou muito mal com uma série de enganos da minha parte. As cenas em casa da tia e depois a adolescência no orfanato fizeram-me temer o pior: mais uma história trágica de uma criancinha com fome, uma espécie de Oliver Twist de saias, que não tem pais e vê a melhor amiga falecer. Depois, vi o trailer do filme de 2011 com o Michael Fassbender e a Mia Wasikowska, e temi que fosse uma história de assombramentos com fantasmas e material desse tipo. Depois disto, deixei de ser parvo e li o livro.
Foi uma leitura surpreendentemente rápida essencialmente porque a Jane é uma personagem forte de quem dá gosto acompanhar a evolução e a forma como cresce por entre as peripécias da vida. Além disso, a escrita tem um delicado equilíbrio entre acessível mas sem ser demasiado simplista e que prima pela forma como retrata os dilemas morais das personagens. Em comparação com "Orgulho e Preconceito", parece-me uma história (muito) mais madura, o que também se reflecte na escrita mais intrincada da Charlotte Bronte.
Mais do que uma história feminista como geralmente é anunciado, "Jane Eyre" é um livro sobre o facto de cada pessoa valer por si própria e não pelo valor que as outras pessoas lhe possam dar. É um elogio da abnegação aos princípios e de como essa é a única via para uma conduta moralmente irrepreensível e para vivermos em paz connosco próprios.
Eu apreciei.