Acerca da (possível) falibilidade do imperativo racional
Na sociedade ocidental, cada vez mais secularizada, a fé na ciência substituiu para muitas pessoas a prática religiosa e empurrou as questões místicas do oculto para um papel largamente marginal na vida do comum dos cidadãos. Começou assim uma procura incessante e obsessiva por uma base racional para todos os aspectos da vida.
Lembrei-me disto a propósito do filme "Magia ao Luar" que, sem ser um filme vintage de Woody Allen, é ainda assim superior a 95% de todos os filmes que estreiam por estes dias. Conta a história de um mágico que faz do desmascarar de videntes e afins o seu hobby, até ao dia em que é finalmente enganado olimpicamente e passa a acreditar no oculto; mais do que isso, é surpreendido com a genuína felicidade que a impossibilidade de explicar o Mundo exclusivamente pela razão lhe traz.
O filme despertou uma questão que por vezes me coloco, especialmente nas alturas em que não tenho muito com que me ocupar como é manifestamente o caso: ao encararmos a vida num prisma estrita ou tendencialmente racional não estaremos a fechar a porta às ambiguidades e subtilezas que, por hipótese, constituem a verdadeira felicidade?