Acerca da infalibilidade dos clássicos
Depois de "Orgulho e Preconceito" e "Jane Eyre" que me encheram as medidas de maneiras diferentes, decidi continuar na onda dos clássicos e estrear-me a ler um livro de Joseph Conrad.
À partida, o livro que eu queria ler era o "Coração das Trevas": primeiro porque tenho o livro em formato digital algures perdido no computador; segundo porque fiquei fascinado com o conceito de um coração de África, uma floresta impenetrável que constitui uma barreira física, mental e cultural dificilmente ultrapassável; terceiro, e último, porque me despertou muita curiosidade a descrição de Michael Palin sobre esta zona do rio Congo e do contraste com a região do Transvaal no norte da África do Sul.
Como em muitas coisas, o Fado interveio na pessoa colectiva da CP-Comboios de Portugal e da sua forma arcaica de compra de títulos de transporte para comboios regionais que me fez passar um bonito par de horas na Estação do Oriente a um sábado de manhã. Lá fui espreitar a Feira do Livro, que lá está de forma mais ou menos consecutiva (e ainda bem), e trouxe dois ou três livros, no meio dos quais vinha "O Agente Secreto".
A história passa-se na Londres do final do século XIX e a personagem principal é o indolente Verloc, um agente secreto ao serviço de uma potência estrangeira e parte integrante de um grupo meio anarquista, meio revolucionário. No meio da preparação e execução de um atentado está a vida quotidiana do senhor Verloc, a sua mulher, o seu cunhado e a sua loja de artigos, vá, alternativos.
Além das personagens incaracterísticas, aborrecidas e genericamente indefinidas, a história é pouco convincente, há muito fumo de salões e pouco de explosões. A escrita em si também não me agradou particularmente, achei-a bastante soporífera e confusa. Decerto existirão méritos numa obra que se tornou um clássico e é uma referência do romance policial mas a verdade é que em nenhum momento lhe achei alguma piada e a muito custo a terminei.
Enfim, o pior é que agora fiquei com vontade nula de ler o "Coração das Trevas". Daqui a uns anos, talvez, quando me esquecer deste completo fiasco. Fica apenas uma encantadora descrição da sogra do senhor Verloc, com a qual todos podemos aprender.
Mas não permitiu que as suas apreensões interiores a privassem da vantagem de uma placidez venerável.