Acerca da epistemologia da rede viária portuguesa
É notícia por estes dias a distinção da estrada nacional N222 como a melhor estrada do Mundo para conduzir. Achei engraçada a forma de apresentar a notícia como um ranking baseado numa fórmula inventada por um físico quântico; é o chamado argumento de autoridade embora eu falhe em perceber a relevância da formação académica para avaliar a beleza de uma estrada. Mas adiante, o homem é físico e portanto como diria Sheldon Cooper, deve ter um working knowledge of the entire universe and everything it contains.
Claro que tudo isto é conversa fiada porque como toda a gente de bom gosto sabe, a estrada mais bonita do país é a N101: de Braga, cidade dos arcebispos (ou dos 3P's consoante o gosto) até Monção, é um desenrolar da paisagem mais verdejante e frondosa do país, encapsulando a essência do Alto Minho em pouco mais de 100km. Isto sem falar dos locais absolutamente encantadores por onde se passa: as feiras em Vila Verde, a excelente e suave subida à Portela do Vade seguida de uma rápida descida até Ponte de Barca e ao rio Lima; os Arcos de Valdevez logo ali ao lado, vila e rio unidos ao longo de todo o percurso que a N110 faz a atravessar a povoação; nova subida e muitas curvas por entre sombras cerradas até ao alto do Extremo; e por fim o sumptuoso Palácio da Brejoeira que constitui uma espécie de prenúncio da chegada a Monção e ao fim de Portugal.
O Alto Douro realmente sim senhor mas se querem ser fixes e alternativos atirem-se antes para o Minho e tentem resolver o seguinte dilema epistemológico: o que é que podemos realmente conhecer sobre uma estrada?
Uma das vistas da melhor estrada do país, cortesia da Wikipédia.