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Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

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Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Acerca dos Irmãos Karamázov

por Tiago, em 25.07.17

No fim de um livro como Os Irmãos Karamázov sinto-me sempre como aquelas anacondas que abocanharam uma gazela de 300kg e agora estão ali meio abananadas durante uns tempos até conseguirem fazer a digestão.

Na realidade foi o livro mais difícil de todos os que li de Dostoievski tendo em conta a sua enorme densidade e complexidade dos raciocínios expostos sobre temas essenciais como a Fé e a forma como pode ser reconciliada com um mundo onde a existência do Mal é evidente. É esta dicotomia que gera uma das mais interessantes passagens do livro: o capítulo do Grande Inquisidor onde é posta em causa a liberdade e o livre-arbítrio como causas fundamentais da infelicidade e da miséria humana. A Deus reencarnado é explicado que a Igreja tem corrigido esse defeito do Criador fazendo as escolhas pelo Homem; o final deste episódio é ambíguo e inconclusivo adensando de alguma forma a angst que domina o seu narrador, o irmão do meio, Ivan Karamázov.

De um modo geral, as personagens não sofrem evoluções drásticas ou alterações profundas do seu carácter como acontece, por exemplo, com a redenção de Raskólnikov em Crime e Castigo; com efeito, é um livro com pouca acção e poucos acontecimentos, quase como uma peça de teatro repleta de longos diálogos. Este traço é particularmente evidente no irmão mais novo, Aliócha (um noviço num mosteiro) que assiste, impávido e inalterado à morte e enxovalhamento do seu tutor e guia espiritual, à crise existencial do seu irmão Ivan e à morte do seu pai de forma brutal e violenta: nada parece fazê-lo questionar as suas crenças mais profundas; será esta a virtude da sua educação religiosa e de amor pelos homens?

É um estudo aprofundado e estarrecedor da psicologia dos personagens. Personagens barulhentas, desprezíveis, contraditórias, fragéis e brutais ao mesmo tempo. Talvez seja essa a maior riqueza deste livro a par dos episódios de índole existencialista ou religiosa.

 

Os Irmãos Karamázov e o seu pai.

Acerca da abundância, da fartura e da ganância

por Tiago, em 10.07.17

Apesar dos preços desgraçados da última Feira do Livro, a remessa de livros que veio comigo para casa foi ainda assim um bocado acima do que estava planeado: culpo o local conveniente onde realizam o certame e falta de coisas melhores para fazer do que andar a ver as estantes todas com um pormenor de irritar a paciência a Cristo.

Cristo que, já agora, é personagem principal (ainda que nunca presente em corpo) da maior tragédia financeira deste ano, um lindo volume do clássico russo Os Irmãos Karamázov. Embora Nosso Senhor não tenha culpa que eu tenha cedido ao pecado da ganância e da luxúria literária, é agora o principal protagonista de um livro que me está a surpreender pela sua densidade absolutamente atroz: está mais perto de ser um livro de filosofia do que um romance moral ao estilo de Crime e Castigo, por exemplo. Em comparação com este último, tem a desvantagem de que todas as personagens são feias, porcas e más de alguma maneira; não há li ninguém verdadeiramente puro e recomendável (Aliocha Karamázov, estou para ver o que vai ser da tua virtude e castidade que me parecem tão supostas!); uma coisa é certa, neste livro ninguém encontra um banana como o Príncipe Myshkin ou um idiota (que trocadilho magnífico) como Raskolnikov que sofre como uma cão pela redenção dos seus pecados.

Um livro que mistura deboche com teologia; amor fraternal e existencialismo. Para si Fyodor, com um abraço deste seu fã que ainda vai a meio do livro:

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