Depois de "Amused to Death" (1992), "Is This The Life We Really Want" vai ser o primeiro álbum de originais do inconformado Roger Waters em cerca de 25 anos: pelo meio houve uma ópera sobre a Revolução Francesa, "Ça Ira?" e várias digressões com um misto de músicas a solo e da carreira dos Pink Floyd.
Da amostra já divulgada com músicas como "Smell The Roses", "The Last Refugee" ou "Picture That", parece-me um regresso ao final dos anos 70 quando foi lançado "Animals" dos Pink Floyd, o álbum mais político e, num certo sentido, o mais virado para a sociedade que Roger Waters escreveu. Depois disso, e sem que se tenha alheado do Mundo, Waters enveredou por um caminho mais pessoal ou pelo menos de uma percepção mais pessoal da política. Este novo trabalho parece ser mais a partir a loiça toda, distribuir pancada a torto e a direito e acho muito bem.
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If I had been God With my staff and my rod If I had been given the nod I believe I could have done a better job
Dentro das várias políticas que regem a minha vida de leitor, destaca-se a grande preferência pelos clássicos mas também duas outras que tendem a andar de mão em mão: 1) diversificar os autores que leio e 2) dar mais que uma oportunidade a todos os autores, excepto quando são maus que dói logo à primeira. Foi este conjuntos de políticas que me deu a conhecer autores como Mario Vargas Llosa (primeiro com o decentezinho "A Cidade e os Cães" e depois com o estupendo "A Festa do Chibo") ou a redescobrir outros como José Saramago (depois da obrigação do "Memorial do Convento" chega a admiração com o livro-semhistória "O Ano da Morte de Ricardo Reis").
Na lista de tipos para quem a primeira oportunidade tinha sido desaproveitada, estava José Luís Peixoto com a relativa desilusão que foi ler "Dentro do Segredo" sobre a sua viagem à Coreia do Norte; é capaz de ter sido uma questão circunstancial visto que na altura andava a ler umas macacadas do Kissinger e por isso estava sempre à espera de um livro mais focado nos aspectos geo-políticos e menos na vida quotidiana dos norte-coreanos. Como isso não aconteceu fiquei de pé atrás até ler de uma penada (leia-se uma viagem de comboio e umas horas de sono roubadas a uma noite de semana) "Galveias", uma história composta com vários recortes da vida dos residentes da pequena aldeia alentejana que dá título ao livro.
Naquelas palestras de escrita criativa ouve-se sempre a indicação para escrever sobre o que se conhece (digo eu que nunca fui a nenhuma) e talvez seja esse o segredo para um livro que é provavelmente das melhores coisas que já li de um autor português; por outro lado, talvez sejam as minhas próprias origens que me ajudem a identificar tão facilmente com as histórias e inquietações das personagens do livro. O episódio mais impressivo foi provavelmente o de Raquel, a moça que estuda em Lisboa e entorna a sopa na viagem: as perguntas sobre os fins-de-semana, a experiência recatada da universidade, os episódios com a senhoria e, principalmente, o estar constantemente a meio entre a cidade e a aldeia, sem pouso certo; a mesma dicotomia cidade/campo que me fez gostar de "A Cidade e as Serras" de Eça de Queirós.