Se há estilo de música que não me assiste por completo é o punk, entendido na sua forma mais canónica, de bandas como os Sex Pistols ou os Ramones. Numa categoria especial coloco os Clash pela pertinência da mensagem passada mas também porque a nível musical, além de serem muito mais evoluídos do que os três acordes das restantes bandas punk, incluíam outros elementos ska, funk ou reggae que conferem uma diversidade completamente diferente às suas músicas.
Contradizendo o que acabo de dizer, esta música é um cover dos Ramones com uma letra bastante política saída do caldeirão da invasão da Baía dos Porcos, da tensão entre o regime militar de Baptista e os revolucionários de Castro e do processo recrutamento de espiões cubanos pela CIA. De resto, e como qualquer moço criado nos anos 90, tenho uma veneração pelos Red Hot do Californication, do sempre presente baixo do Flea mas, acima de tudo, da guitarra mágica do John Frusciante.
Parece-me adequada à actualidade da visita do Presidente Obama a Cuba e tinha ficado bem aos Rolling Stones (fãs confessos deste humilde blog) tocarem isto no seu primeiro concerto em Havana!
PT-boat on the way to Havana I used to make a living, man Pickin' the banana. Now I'm a guide for the CIA Hooray for the USA!
Baby, baby, make me a loco Baby, baby, make me a mambo.
Sent to spy on a Cuban talent show First stop - Havana au go-go I used to make a living, man Pickin' the banana Hooray for Havana!
Baby, baby, make me a loco Baby, baby, make me a mambo.
Talvez seja apenas um retrato-tipo da emigração massiva da Irlanda para os EUA no pós 2ª Guerra Mundial mas "Brooklyn" pareceu-me um pouco mais do que isso. Pareceu-me um filme sobre o sentimento de não pertencer, das escolhas que se fazem entre o que se quer alcançar e o que fica para trás nesse caminho. Não se está bem onde existe trabalho porque não é a nossa casa; por outro lado a nossa casa também já não é aquilo que idealizámos na ausência. Fica-se ali a meio caminho, num sítio estranho, temendo que uma nova cidade nunca seja tão feliz e acolhedora que lhe possamos chamar casa. E isso é chato.
O fascínio pelos clássicos é algo que está sempre presente nas minhas escolhas de filmes, música ou livros. Acho sempre estranho que se possa ver, ler ou ouvir apenas o que vai aparecendo tendo em conta que é estatisticamente improvável que não exista nada melhor feito no passado; claro que isto não invalida que apareçam novos filmes, novas bandas que valham a pena mas faz-me espécie andar sempre atrás do next big thing quando existem tantas coisas boas para descobrir no passado.
Uma época de que gosto particularmente, em termos de cinema, são os anos 50/60, altura em que foram feitos alguns dos meus filmes preferidos como "Lawrence da Arábia", "A Ponte Sobre o Rio Kwai", "Os Canhões de Navarone", "Dr. Strangelove" e muitos outros. Assim, o facto de nunca ter visto um filme com a Audrey Hepburn era uma falha grave que colmatei assistindo a "Roman Holiday", protagonizado a meias com Gregory Peck, actor que já tinha visto no assalto a Navarone.
Logo nos créditos iniciais fiquei surpreendido com o facto do filme ser realizado por William Wyler que também esteve por trás de outros clássicos como "Ben-Hur" ou "O Monte dos Vendavais". Por outro lado, o argumento foi escrito em parte por Dalton Trumbo, figura em destaque pelo novo filme com Bryan Cranston, embora só tenha recebido os créditos mais tarde devido às suas supostas simpatias comunistas. Quanto ao filme em si, é a história de uma princesa entediada que, numa fuga por Roma, esbarra com um jornalista sedento de um furo que lhe permita fazer fortuna. Mais do que a história de enganos e peripécias, agrada-me aquilo que, como um absoluto leigo em cinema, definiria como uma certa elegância e sobriedade nos planos e filmagem das cenas, aproveitando ao máximo o belíssimo pano de fundo da Cidade Eterna.
Foi o filme que catapultou Audrey Hepburn para o sucesso e reza a lenda que Peck, já um actor de sucesso em Hollywood, terá sugerido que se colocasse o nome de Hepburn junto ao seu nos créditos iniciais, com o mesmo destaque, usando o seguinte argumento: "She'll be a big star and I'll look like a big jerk". Assim pode ler-se "Presenting Gregory Peck and introducing Audrey Hepburn". Bem visto da parte do Gregory!
Este post não poderia deixar de começar com um merecido louvor à belíssima livraria que pontifica na esquina da Calçada da Estrela com a rua da Bela Vista à Lapa. Nem sei bem o nome daquilo mas uma breve visita no intervalo de almoço foi o suficiente para lhe reconhecer o potencial de fazer mossa na minha carteira com as inúmeras edições a preço acessível e em capa dura, de folhas suavemente envelhecidas, de inúmeros clássicos dos quais saltaram à vista os Dostoievskis, Tolstois, os Gorkis mas também outros autores que ainda não tinha explorado como a Charlotte Brontë ou a Jane Austen.
Nesta visita trouxe, meio a contragosto, o "Orgulho e Preconceito" por uns muito competitivos 7€. E é precisamente pelo preconceito que se explica o facto de ter chega à provecta idade de 24 anos sem ler nada da sra. Austen. Com efeito, aquela Inglaterra vitoriana dos bailes, vestidos de folhos, o interior rural e bucólico, amores, desamores e pessoas com penteados esquisitos sempre me inspirou, logo à partida, o mais profundo tédio.
Numa primeira impressão, achei o livro bastante divertido o que vai muito contra o meu preconceito inicial: a fina ironia e crítica social de Austen faz-me lembrar um pouco a escrita do nosso Eça de Queirós, talvez num estilo mais subtil. O sr. Collins podia ser uma personagem de um qualquer romance do Eça espelhando a obsessão típica com a ascensão social e a possibilidade de subir na hierarquia, nem que para isso se tenha de prestar uma vassalagem ridícula e humilhante a personagens no mínimo desagradáveis como Lady Catherine, uma austera representante da nobreza de nariz empinado.
Tal era a minha ignorância acerca do livro que no início até me parecia que a protagonista seria Jane, a inocente irmã de Elizabeth e aí já estava a ver a coisa a descambar em tragédia de faca e alguidar. Receio infundado visto que depressa de percebe que é a encantadora Elizabeth a personagem principal em torno da qual se desenrola toda uma história de encontros e desencontros das irmãs Bennet com os seus potenciais pretendentes. É redutor reduzir o livro a um conjunto de romances visto que são abordados de uma forma contudente outros temas para além do casamento, com destaque para o dinheiro e as hierarquias sociais.
A personagem de Elizabeth é particularmente interessante quando consideramos que o livro foi escrito no início do século XIX; embora não seja aquilo a que se poderia chamar uma mulher independente e emancipada, Elizabeth não deixa ainda assim que sejam as convenções sociais a ditar a sua acção, sobrepondo a sua inteligência, perspicácia e determinação à conveniência de encontrar um marido e um casamento economicamente vantajoso.
Uma mulher em termos esta Elizabeth e, provavelmente, muito avançada para a época em que "viveu".