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Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

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Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Acerca de colchas e coberturas

por Tiago, em 26.02.16

Não raras vezes, as covers são vistas como obras menores e pouco dignas de uma grande banda; eu gosto de olhar para estas músicas como saudáveis homenagens a bandas do passado, tantas vezes caídas em esquecimento e que são muitas vezes portas abertas para álbuns desconhecidos por mim até então.

Começando pelos Pearl Jam: são inúmeras as covers que fizeram, ao vivo e em estúdio, de nomes ilustres como Pink Floyd (Mother), Bruce Springsteen (My City Of Ruins), Neil Young (Rockin' In The Free World), Bob Dylan (Masters Of War), Beatles (You've Got To Hide Your Love Away) mas também de outros menos conhecidos como J. Frank Wilson and the Cavaliers (Last Kiss).  No entanto, a última que me surpreendeu, até porque não sou adepto dos The Who é a versão de Love, Reign O'er Me que parece ter sido escrita à medida da voz de Eddie Vedder.

Deixo também uma versão de Neil Young pelos Oasis, de uma música que também não conhecia, chamada Hey Hey My My. Aparentemente será uma música sobre Elvis Presley e Johny Rotten, sendo que o verso "It's better to burn out than to fade away" se parece aplicar à vida de ambos.

Acerca de encontros improváveis em 25º grau

por Tiago, em 21.02.16

Para minha grande surpresa, decobri num post do Delito de Opinião sobre Hemingway que, numa viagem do escritor por Hong Kong, este terá conhecido personagens tão incontornáveis e antagónicas como Zhou Enlai e Chiang Kai-Chek. Ainda mais surpreendido fiquei quando percebi que existe um filme da HBO, centrado na história de amor entre Hemingway e Martha Gellhorn (Clive Owen e Nicole Kidman), em que a cena do encontro com Zhou é retratada.

Se entendi bem, esta viagem ocorreu durante a época em que uma China dividida entre nacionalistas e comunistas se opõe ferozmente à invasão nipónica. É fantástico que uma personagem como Hemingway, uma celebridade no seu tempo, possa ter conhecido o Generalíssimo Chiang e um revolucionário como Zhou, mais tarde Primeiro-Ministro e braço direito de Mao durante os anos negros do Grande Salto em Frente e da Revolução Cultural. Zhou é um político especialmente interessante, caso típico de como preto e branco se confundem em ténues tons de cinza, que descobri primeiro pelos relatos de Kissinger e depois pela sua biografia The Last Perfect Revolutionary; este livro dava para aí uns 10 posts sobre a mais refinada intriga e maquinação política.

Reza a história que o casal Hemingway terá ficado extremamente impressionado com a lucidez e inteligência de Zhou, atributos que lhe eram reconhecidos de forma mais ou menos consensual por amigos e inimigos, e convencidos de que os comunistas acabariam por prevalecer na China.

 

Acerca da insularidade britânica

por Tiago, em 15.02.16

Numa altura em que se tem debatido bastante o Brexit, o referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia e as cedências negociais que David Cameron tenta usar para defender o "Sim", parece existir um pouco a ideia de que uma UE sem UK seria algo vazio de sentido. Embora fosse sem dúvida um enfraquecimento enorme dessa coisa anacrónica, amorfa e idefinida que dá pelo nome de política externa europeia, importa ainda assim lembrar que historicamente o eurocepticismo é um pilar essencial da política externa britânica para quem os EUA sempre foram o seu natural e mais importante aliado. Com efeito, a única preocupação britânica sempre foi impedir uma posição estratégica hegmónica de qualquer uma das potências continentais, França ou Alemanha, e sempre foi esse o critério para avaliar a necessidade de intervenções militares.

No pós-Guerra, foi Churchill quem cunhou o termo Estados Unidos da Europa e envidou esforços para promover uma Europa unida que, na sua percepção, era o contrapeso mais importante para deter a ameaça comunista da União Soviética. Apesar disso a sua posição sobre a Europa nunca foi entusiástica, como o próprio admitiria:

Much later, in the House, he needed only eight words to state his position on continental Europeans and their drift toward unity: “We are with them, but not of them.

Um pouco como aquela frase que se atribui muito à esquerda intelectual sobre o povo: sempre ao lado do povo mas nunca no meio dele.

Acerca da Peregrinação do Rapaz Sem Cor

por Tiago, em 11.02.16

Um dos melhores livros que li nas últimas semanas foi, de longe, a "Peregrinação do Rapaz Sem Cor" de Haruki Murakami. É notável que se tenha destacado tanto numa altura em que li uma sequência de livros muito interessantes como o "Arco do Triunfo" de Erich Maria Remarque, uma bela história com a Europa das vésperas da 2ª Guerra Mundial como pano de fundo, ou a épica viagem de Michael Palin, desde o Pólo Norte ao Pólo Sul, relatada em "De Pólo a Pólo".

O tema que me parece mais ou menos transversal a outros dos livros que já li de Murakami ("Sputnik Meu Amor", "A Sul da Fronteira, A Oeste do Sol") é o das dores de crescimento, da transição entre adolescência e idade adulta, da forma como o tempo cria distâncias inultrapassáveis e diferenças subtis mas incontornáveis entre pessoas que foram próximas num qualquer tempo passado.

A peregrinação aparece aqui como uma metáfora para um ajuste de contas com o passado; é a crónica da  personagem principal colorless Tsukuru Tazaki  na tentativa de perceber um estranho acontecimento na sua adolescência que marca de forma decisiva o adulto Tskuru. E é o desbloquear desse trauma de juventude que pode dar ao protagonista a chave para um futuro com um saudável horizonte de felicidade.

Altamente recomendado! Já agora, porque é que os títulos em inglês são mais engraçados? Lamentavelmente, sem-cor Tskuru Tazaki não fica tão giro numa capa...

Será que os outros precisavam realmente dele? Não ficariam melhor sem a sua presença? Se calhar, dizia com os seus botões, ainda não se deram conta disso; talvez seja apenas uma questão de tempo...

Acerca das profundezas da Venezuela

por Tiago, em 05.02.16

Para além do prazer de ver a Kevin Spacey a fazer um papel feito à medida de um actor que nasceu para fazer de cínico, calculista e pérfido, ver a terceira temporada de House of Cards trouxe-me também esta bela música. É a banda sonora de abertura do final da temporada em que há uma crescente separação entre o até aí inseparável casal presidencial, ao mesmo tempo que uma outra personagem central enfrenta os fantasmas do passado. 

Com uma toada lenta e melancólica, a fazer lembrar a primorosa versão de Hallelujah do Jeff Buckley, a música acompanha uma cena em que redescobrimos Rachel, uma personagem que viu de mais e por isso se esconde nas profundezas da Venezuela tentanto assim fugir do alcance do Chefe de Gabinete do Presidente Underwood. É desde logo evidente aquilo que os GNR chamariam um prenúncio de morte enquanto esta cena de abertura se desenrola, apesar de a letra ser até bastante optimista, lembrando que a felicidade está nas coisas mais pequenas da vida e que nos aparece ainda que andemos errantes e indecisos.

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