Esta sequência de citações de "Defender Of The Realm" tem como tema genérico as posições de Churchill, um tipo prático e pouco dado a filosofias obtusas, face ao divino e ao intangível. Numa tirada genial, e que diz muito acerca da consideração que tinha pela ideologia dos seus aliados soviéticos, Churchill aceita a contra gosto a existência de Deus.
In a similar impish vein, he once proclaimed a proof for God’s existence “is the existence of Lenin and Trotsky, for whom a hell is needed.”
É de destacar também a sua tremenda sensibilidade a lidar com as preocupações de um arcebispo da Igreja Anglicana quanto à possibilidade dos incessantes bombardeamentos dos alemães poderem atingir os templos da cidade de Londres.
“In that case, my dear Archbishop, you will have to regard it as a divine summons.”
No entanto, e como Churchill não era um tipo dado a discriminações, guarda um semelhante carinho para o Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana, quando confrontado com a possibilidade real dos bombardeamentos sobre Roma poderem pôr em causa a sua vida.
“I should like to tell the old man to get down into his shelter and stay there for a week.” The pope may have had friends in high places, but Churchill was not one of them.
No entanto, e agora a sério, era um homem com uma curiosidade ardente que o levava a devorar todo o tipo de livros e a extrair deles lições para a vida. Apesar disso, e como testemunha Harry Hopkins, um dos principais conselheiros de Roosevelt e amigo pessoal de Churchill, essa leitura podia ser frequentemente enviesada de acordo com as suas convicções de partida.
Hopkins said that he—Winston—only read the bits of the Bible that suited him and they were drawn from the Old Testament.
Perto da hora final, e num tradição tão cara à igreja Protestante, poder-se-ia pensar que ainda houve espaço para a conversão e salvação da sua alma; quer-me parecer que foi o caso.
“I am ready to meet my Maker,” he told friends that day. “Whether my Maker is prepared for the ordeal of meeting me is another matter.”
Uma parte significativa de Defender of the Realm, um dos volumes da biografia de Churchill por William Manchester, é a descrição das consequências do blitz no quotidiano da população londrina. Pelo meio, aparece esta perspectiva diferente sobre a situação:
A five-year-old girl who had lived her entire life behind the blackout curtains said to her mother, "It's lovely to let out the light, but how shall we keep out the darkness?"
É razoavelmente simples imaginar qual o efeito do blitz na população londrina durante a 2ª Guerra Mundial e qual a sensação de retorno à normalidade quando por fim se pôde ligar de novo a iluminação pública, até ali desligada para dificultar a tarefa dos bombardeiros nazis. Como tudo na vida, também a luz e as trevas são também uma questão de perspectiva: é a luz a ausência das trevas ou serão as trevas a ausência da luz? E para citar as Escrituras, que fica sempre bem a um gajo agnóstico que nem paciência tem para se converter num ateu militante, fica um bonito versículo do Novo Testamento, desmentido pelo deslumbramento do pessoal da foto a olhar para um prédio iluminado.
E o julgamento é este: que a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más (João, 3:19).
The war is over!
PS: Esta imagem quase poderia fazer parte da muito apreciada colecção de fotos históricas que vão sendo publicadas no estimável blog da Sara.
Depois de há uns anos me ter lançado a ler a autobiografia de Churchill e despachar as 1000 e algumas páginas em poucas semanas, volto agora a minha atenção para a terceira parte da sua monumental biografia "The Last Lion", da autoria de William Manchester. Como contrapeso à História negra da 2ª Guerra Mundial, acho imensa piada a algumas saídas do "Old Man" como era conhecido pelos sombrios gabinetes do Governo Britânico.
Tal como o título do post indica, as saídas (não tenho a certeza até que ponto algumas não serão apenas mitos) são inúmeras e podem assim constituir assunto para um razoável número de posts, consoante a minha paciência. Comecemos pelo sua versão do manifesto Anti-Dantas, na pessoa do seu colega Stanley Baldwin, um primeiro-ministro conservador que antecedeu Churchill no cargo.
I wish Stanley Baldwin no ill, but it would have been much better if he had never lived (...) Occasionally he stumbled over the truth, but hastily picked himself up and hurried on as if nothing had happened.
Impossível não imaginar um sonoro pim! a ressoar na moleirinha do senhor Baldwin.
Uma das frases que mais define a minha personalidade e, e não vale a pena tentar suavizar, é a elegante expressão "Não sei, fodasse!". Dir-me-ão que sou um tipo um bocado rústico e sou levado a concordar; no entanto, o "Não sei" é a única resposta verdadeira que me ocorre à maioria das perguntas sérias que me fazem e o "fodasse!" é apenas um complemento que traduz a exasperação com que brindo quem expõe a minha ignorância. Serve este brutal prolegómeno para tentar explicar um bocado o que mais me fascina na recém descoberta obra dos Oasis. Tudo começou por acaso quando encontrei um concerto em Wembley ou Manchester e músicas como Slide Away ou Falling Down me chamaram a atenção para uma banda que até então conhecia essencialmente pelos inevitáveis Don't Look Back In Anger ou Champagne Supernova.
Na verdade, a grande descoberta foi a de um grande vocalista no senhor Liam Gallagher, nome que para mim significava essencialmente tiradas bombásticas e geralmente ofensivas sobre outros colegas de profissão. Sem tirar nada do irmão Noel (veja-se por exemplo a brilhante versão acústica de Setting Sun ou The Masterplan), foi a atitude fuck off do Liam que me cativou e levou a investigar a fundo o que estes moços fizeram: tanto na dúvida optimista de Live Forever, no encanto de Songbird, no desespero de Don't Go Away ou na resignação pacífica de I'm Outta Time, os Oasis conseguem sempre pôr em palavras o que vai na cabeça de (julgo eu) muitas pessoas. E isso já não é pouco.