Os Estados Unidos não são exactamente um destino de sonho para mim; no entanto, o delta do Mississipi sempre me fascinou, em particular a cidade de Nova Orleães. Seria com certeza uma experiência interessante ouvir esta música num daqueles bares de blues tal como aparecem nos filmes, mal iluminados, sombrios e com espirais de fumo pelo ar.
I once was lost, I was blind, I was poor and hungry
Talvez o traço comum aos grande génios seja a capacidade de questionar e olhar para as coisas de pontos de vista inéditos. Mais do que a grande capacidade do cérebro ou a grande quantidade de conhecimento acumulado a ganhar pó num qualquer córtex cerebral ou seja qual for o nome dado pelos neuro-cientistas às estruturas responsáveis pelo armazenamento da informação.
Ainda sobre as aventuras do físico Richard Feynman com a língua portuguesa: depois de algum tempo aprender espanhol para preparar a sua viagem para a América do Sul, ficou definido que passaria algum tempo num centro de pesquisa no Rio de Janeiro. No avião, e de modo a perceber até que ponto as suas noções muito básicas de português adquirido em contra-relógio seriam utéis, meteu conversa com uns passageiros portugueses. Contando a sua história, Feynman depara-se a certa altura com um problema:
Now I wanted to say, “So, I learned Portuguese,” but I couldn’t think of the word for “so.” I knew how to make BIG words, though, so I finished the sentence like this: “CONSEQUENTEMENTE, apprendi Portugues!” When the two men came back with the baggage, she said, “Oh, he speaks Portuguese! And with such wonderful words: CONSEQUENTEMENTE!”
É impressão minha ou isto é exactamente a forma como o esternocleidomastóideo de Vasco Santana impressionou as suas (s)antas tias na Canção de Lisboa?
Numa altura em que tanto se discute o português a propósito do Acordo Ortográfico, fica a história de como o físico Richard Feynman decidiu aprender a nossa língua em detrimento do espanhol. A ideia de Feynman era passar uma temporada na América do Sul e daí a sua necessidade de aprender a língua. Abaixo a história destas peripécias e que consta do livro semi-autobiográfico Surely You're Joking, Mr. Feynman!. Um livro imensamente divertido que revela um carácter excepcional de um físico teórico que foi a tribunal defender bares com empregadas em topless, participou no Carnaval do Rio e ainda teve tempo para ganhar um prémio Nobel.
"Cornell had some foreign language classes which followed a method used during the war, in which small groups of about ten students and one native speaker speak only the foreign language-nothing else. Since I was a rather young-looking professor there at Cornell, I decided to take the class as if I were a regular student. And since I didn’t know yet where I was going to end up in South America, I decided to take Spanish, because the great majority of the countries there speak Spanish. So when it was time to register for the class, we were standing outside, ready to go into the classroom, when this pneumatic blonde came along. You know how once in a while you get this feeling, WOW? She looked terrific. I said to myself, “Maybe she’s going to be in the Spanish class—that’ll be great!” But no, she walked into the Portuguese class. So I figured, What the hell—I might as well learn Portuguese."
Apesar do excelente argumento em defesa do português, o espírito racional de Feynman levou-o a escolher o espanhol por ser maioritário na América do Sul. Ironicamente acabou por passar 9 meses a dar aulas no Brasil.
Navegava eu pelos mares blogosféricos quando percebo que um expert do cinema e da literatura já tinha feito uma pequena antevisão de Inherent Vice: Pedro Mexia no seu excelente blogue "Malparado". Mais do que um crítico de cultura cuja opinião muito respeito, Pedro Mexia é na verdade a razão pela qual eu alguma vez peguei num livro de Pynchon até porque era para mim um nome desconhecido. Penso ter sido numa das primeiras emissões (radiofónicas) do Governo Sombra, algures em 2008, que o Pedro, a propósito de um senhor sueco associado aos Prémio Nobel ter afirmado que a literatura norte-americana era alheada do Mundo, mencionou quatro nomes que ficaram marcados na minha memória e que li quando tive oportunidade: Cormac Mccarthy, Don DeLillo, Philip Roth e claro, Thomas Pynchon. O comentário político é interessante mas é mais por estas pérolas que o Governo Sombra vale a pena.
(Sempre quis fazer isto e atendendo a que nunca escreverei um livro, fica aqui uma tentativa absolutamente boçal de iniciar um texto com uma nota introdutória de nome pretensioso.)
Prólogo
Ainda não li o livro. E ainda não vi o filme embora ache que só será lançado ao público em Janeiro pelo que eu próprio me absolvo. Fica ainda justificada qualquer parvoíce escrita depois deste prolegomenon (ressuscitemos línguas mortas já agora).
Tudo o Resto
Então parece que vem aí um filme novo de Paul Thomas Anderson chamado Inherent Vice baseado na obra homónima de Thomas Pynchon. Depois de ler e não ter percebido completamente V., tenho curiosidade em tentar de novo um livro de Pynchon e este vem mesmo a calhar porque em caso de dúvida é ver o filme. Quanto ao filme, será uma oportunidade para tentar catalogar o realizador na minha lista de preferências: gostei imenso de Magnolia (um dos meus filmes preferidos), não gostei de Boogie Nights (essencialmente pela história ou falta dela) e There Will Be Blood tem excelentes momentos (em particular a sequência final) embora ache que se arrasta demasiado para o meu gosto. Portanto vamos lá ver o que sai deste Inherent Vice... Ah e a banda sonora é de Jonny Greenwood dos Radiohead por isso a expectativa está lá em cima neste particular.
A expressão que dá título ao livro/filme refere-se, segundo a Wikipédia, a um defeito escondido num qualquer objecto físico, causando a sua deterioração e instabilidade dos seus componentes. Num filme que conta a história de um detective que investiga o desaparecimento do namorado da ex-namorada, fico a aguardar personagens absolutamente instáveis e explosivas.
Vou tratar então de ler o livro para ver se alguma das minhas previsões se concretiza ou se realmente não percebo nada disto. A ciência futebolística indica que os prognósticos só devem ser feitos no fim do jogo; veremos se, como tanta coisa do mundo do futebol, esta teoria é adequada também às literaturas.
Conclusão e (falta) de moral da história
E o cartaz absolutamente encantador do filme? Será uma referência a V. ou são somente os membros inferiores de uma senhora?
Na TVI24 o jornalista Henrique Garcia entrevistava a autora de um livro, cujos nomes já não apanhei, sobre a Lisboa dos anos 70. Para lá dos cinemas, cafés ou personagens em destaque, chamou-me a atenção a parte da conversa que incidiu no PREC. Confessava a autora que apesar de toda a pesquisa não conseguia ter uma ideia precisa sobre os conturbados tempos do pós-revolução. A princípio achei a ideia estapafúrdia mas depois percebi que quem não viveu in loco esses dias não pode ter de facto uma ideia sobre o clima vivido na cidade: além das conspirações e tentativas constantes de golpes de estado que pairavam durante o Verão Quente de 75, havia ainda uma inflação galopante, escassez de bens nas lojas e até atentados à bomba perpetrados por grupos radicais de esquerda e direita.
Assim, chego também à mesma conclusão da autora, não conseguindo imaginar toda a situação vivida nesses tempos. Acrescento no entanto que é um exercício essencial para se perceber o real valor do 25 de Abril, de tudo aquilo que fez nascer, de bom e de mau, na sociedade portuguesa. Apesar das constantes declarações de amor dos velhos do Restelo aos tempos da Outra Senhora, tenho para mim que o balanço é muito positivo. Ou nas sábias palavras de Sophia:
Os Pink Floyd versão David Gilmour (pós-1984) mantiveram uma coerência assinalável ao nível da componente musical e melódica das canções, seguindo muito as linhas orientadoras do álbum Wish You Were Here; as letras no entanto sofreram um abalo considerável com a saída de Roger Waters, a única verdadeira alma inconformada da banda. Isto é particularmente visível em músicas como On The Turning Away ou A Great Day For Freedom (de um politicamente correcto absolutamente confrangedor) ou Dogs Of War (um spin off embaraçoso do passado glorioso de Animals).
Apesar disso ainda existem algumas réstias de classe no meio do campo conceptual estéril em que se baseiam os discos Momentary Lapse of Reason e The Division Bell. Especialmente este último reflecte algumas ideias sobre a comunicação entre as pessoas que me parecem especialmente pertinentes numa altura em que a era da informação está cada vez mais acelerada e os Homens cada vez mais isolados.
O tema Keep Talking, com a participação do físico inglês Stephen Hawking, expressa a dificuldade de interacção de um indivíduo isolado, a sensação definida em inglês como alone in the crowd e a forma como isso condiciona a resolução quotidiana de conflitos. Hawking volta a participar em The Endless River novo disco dos Pink Floyd que será lançado algures até ao fim do ano. Fico à espera para ver a pertinência da mensagem destinada à voz computorizada de Hawking.
It's more of a wish [that all problems can be solved through discussion] than a belief. (David Gilmour, 1994)
Acho graça quando as pessoas se definem como ateias. Geralmente com uma intenção de rebeldia oca e sem qualquer espessura intelectual: é mais revolta contra a Igreja e os homens que a constituem do que exactamente uma crença fundamentada na inexistência de uma entidade divina. Como diz o Ricardo Araújo Pereira, isto para ser ateu é preciso ler umas coisas e ter uma base de argumentação, não é só proclamar aos setes ventos esse facto. Especialmente quando se confunde uma pessoa crente com um atrasado mental, confusão essa que está muitas vezes na base dos argumentos dos ateus de algibeira.
Tudo isto para dizer que, dada a minha a natureza perguiçosa e de pessoa que se cansa com facilidade (mesmo não padecendo de um enfisema pulmonar ou algo do género), eu prefiro ser agnóstico. Dá menos trabalho. Estou no entanto disponível para uma peregrinação em honra de Nossa Senhora, no caso a Madonna del Ghisallo, a Santa Padroeira dos Ciclistas. A capela situa-se numa colina sobranceira ao Lago Como sendo uma subida utilizada regularmente no Giro da Lombardia, uma das clássicas mais míticas da história do ciclismo.
Uma região encantadora.
Vista da capela com as montanhas da Lombardia como pano de fundo.
Vitória ou derrota: para os grandes campeões não há mais nada.
A música pop electrónica não é a minha primeira escolha. Em boa verdade, não é a primeira, nem segunda, nem terceira....está basicamente ao nível do Nélson Oliveira no plantel do Benfica, isto é, ouço este tipo de música nas quintas sextas-feiras de meses ímpares em anos bissextos. Mal tal como a Jorge Jesus, a mim também me passam coisas pela vista às vezes; neste caso trata-se de uma música de La Roux chamada Tigerlily. Apesar de já ter saído em 2009, só agora (e em boa hora) me chegou aos ouvidos.
[Na categoria das associações parvas, o nome desta música só me lembra um jogo inventado pelo Marshall, uma personagem da série How I Met Your Mother, chamado Monopolily em homenagem à sua noiva Lily.]