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Zanadu!

Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

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Crónicas de Timbuktu, Trevim e Lisboa (nos melhores dias)

Acerca do culturismo

por Tiago, em 29.04.14

Ao ler I Married A Communist (sim, em inglês. Não porque seja pretensioso ou arrogante mas porque de facto li em inglês - noto agora que esta ressalva dá um ar mais snob a tudo isto....fixe!) é impossível não reparar numa certa tendência de ser polticamente incorrecto, o que é especialmente refrescante numa altura em que todas as opiniões são relativamente uniformizadas e, diariamente, são feitos apelos ao consenso, indo contra aquilo que é no fundo a política. Na verdade, a simples 2ª Lei da Termodinâmica explica que é na morte que tudo tende para a uniformidade; mas pronto, a incultura (a partir do momento em que inverdade é um termo com espessura política sinto-me livre para os neologismos) dos agentes políticos na área da Física não os deixa perceber estas coisas.

No entanto, não é isso que interessa ao caso. Foi apenas um prolegómeno com o objectivo de demonstrar que também eu tenho uma capacidade crítica sobre a sociedade, denotando um espírito lúcido e sagaz na incessante luta pela Verdade e pelo Conhecimento de que é feita a minha vida. Ah e que consigo articular isso com conceitos físicos que não compreendo.

Enfim, o que me pareceu realmente interessante foi o facto de Roth colocar em oposição dois conceitos: a política como "the great generalizer" em oposição à literatura como "the great particularizer"; a tarefa do Escritor é realçar as nuances e procurar nas contradições a essência do ser humano. O caos é uma necessidade do Escritor; caso contrário está apenas a produzir propaganda. No entanto, a natureza intrínseca do particular é falhar em conformar, em uniformizar. 

Será por isso que os regimes totalitários não toleram a liberdade literária e preferem a propaganda? 

"Generalizing suffering: there is Communism. Particularizing suffering: there is literature."

Acerca da sabedoria do cinismo

por Tiago, em 29.04.14

Eu hei de lhe falar lugubremente 
Do meu amor enorme e massacrado, 
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente. 

Hei de expor-lhe o meu peito descarnado, 
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário, 
E ser menos que um Judas empalhado. 

Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário 
E desvendar a vida, o mundo, o gozo, 
Como um velho filósofo lendário. 

Hei de mostrar, tão triste e tenebroso, 
Os pegos abismais da minha vida, 
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso, 

Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida, 
Cheia de dor, tremente, alucinada, 
E há de chorar, chorar enternecida! 

E eu hei de, então, soltar uma risada. 

 

Pela mão de Cesário Verde, é um poema muito engraçado que aborda o cinismo como uma espécie arma de arremesso no digníssimo campo do engate. Porém, torna-se especialmente divertido (ou só parvo) se pensarmos que, adicionando uns trocadilhos ordinários e badalhocos, poderíamos estar na presença de uma obra saída da pena do mais ilustre trovador de Vila Praia de Âncora. Fica a tímida sugestão de um admirador para esse colosso da música popular e outra alma embriagada de poesia.

 

Enfim, a sabedoria poética de Cesário Verde ao serviço dos mais altos desígnios. O mais alto neste caso.

Um encanto.

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