Acerca da improbabilidade das lantejoulas
Bastante fora de moda para a minha geração, Bryan Ferry funciona actualmente como uma espécie de cantor britânico com uma aura romântica que, tipicamente, é muito pouco inglesa.
Desde o cover de Jealous Guy até ao muito arrebatado Slave to Love o homem é de facto um grande intérprete. Além disso, é um tipo com olho para contratações, como o demonstra a sua actuação no Live Aid. Acho sempre óptimo um gajo que pensa “Epa precisava de um guitarrista pa dar aqui uma ajuda” e conclui brilhantemente “Ah já sei, conheço um tal de David Gilmour”.
Voltando atrás, aos tempos dos Roxy Music, Mother of Pearl é um resumo bastante apurado da imagem que tenho de Bryan Ferry: um rocker a sério com uma saudável queda para as baladas. Neste caso, depois de uma introdução com umas guitarras infernais, surge uma música completamente nova, com um ritmo pasteleiro, um refrão viciante e uma letra dúbia com algumas alusões ao consumo de…coisas.
Adensa-se assim o mistério da improbabilidade das lantejoulas: quem diria que pessoal com opções de vestuário tão questionáveis ia ter um gosto tão refinado para a música?